sábado, 3 de dezembro de 2016

Desabafo

Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos, fazemos o nosso mundo.
(Buda)

Começo a escrever esse texto sem ter certeza se ele será visto, lido, por mais alguns olhos além dos meus. O motivo? Falta de coragem talvez...ou não...sendo mais compreensiva comigo mesma por um momento, falta de paciência...sendo mais clara, falta de argumentos para ampliar mentes já tão saturadas de informação e egos tão inflados com motivos contrários aos que inflavam os egos há tempos.

Começo por dizer quem vos escrever ( se é que "vós" existirá, como já disse...) não me considero uma alienada, muito menos uma politizada. Sou sim uma privilegiada diante dos conceitos atuais, sociais, políticos e econômicos; porém espero que ainda não tenha sido proibido em todas as ditaduras veladas em que vivemos ( que são muitas!) a qualquer um, privilegiado ou não, manifestar uma opinião.

Mais do que qualquer posição social nesse planeta de seres que desconhecem sua luz, eu me considero uma pessoa espiritualizada...bem essa palavra é bem ruim..."espiritualizada", "espiritual",  palavras que já foram tão usadas que estão gastas e  perderam o sentido. Quando você repete muitas vezes a mesma palavra acontece dela perder o sentido, às vezes, acontece. Então preciso explicar que o que quero dizer com isso é apenas que não enxergo a realidade de uma forma apenas física, química, ou seja lá como os "homens-deuses-cientistas" denominaram, não enxergo apenas isso, vejo algo mais.

Vejo energia fluindo, sinto energia fluindo. Vejo uma grande rede de pensamentos, intenções e ações se conectando por todo o universo, e a nossa realidade sendo moldada por isso. Aliás vejo um corpo único onde alguns vêem pedaços de um "desconhecido universo infinito". Vejo seres tão inconscientes de si mesmo e de tudo que os cerca, com um poder que nem se dão conta...

Acontece que nessa visão; que já defendi como verdade, mas hoje assumo como minha forma pessoal de ver tudo o que existe; a nossa mente cria a realidade. Simples assim: O que pensamos atraímos, o que sentimos atraímos. O que pensamos e sentimos de forma consciente atraímos um pouco, o que pensamos e sentimos de forma inconsciente...atraímos e muito! Como um super imã! Isso acontece porque nosso inconsciente é muito mais poderoso do que nossa mente consciente, ele é infinito como o universo e carrega uma carga de energia fenomenal.

Esse é o momento do texto em que eu dividirei os meus leitores fantasmas que ainda nem existem. Você concorda com isso? Você vê a realidade como eu vejo? Você percebe que atraímos o que pensamos e o que sentimos, de forma consciente e mais ainda de forma inconsciente? Se sim continue lendo, caso contrário pode parar por aqui porque se você não vê dessa forma, a minha problemática não fará sentido pra você.

Voltando a linha de pensamento... O que pensamos e sentimos de forma inconsciente tem um poder enorme de atração e realização. Agora...imagina muitos inconscientes juntos...Imagina o poder de todos os inconscientes desse planeta. O que será que somos capazes de fazer? E o que será que já não estamos fazendo? Sem saber, sem perceber, sem poder sermos julgados culpados por isso, pois nem enxergamos essa rede de energia e manifestação, muito menos sabemos que nós somos os mestres dela.

E aí estamos num momento do planeta onde a problematização está em alta. O momento do "Precisamos falar sobre kevin", sobre estupro, sobre misogenia, sobre agressão, sobre a podridão política, sobre abuso de poder, sobre preconceitos ( e agressão por conta de preconceitos), sobre tudo que é ruim e podre no ser humano. O tempo inteiro. O espelho mágico do milênio colabora para que tudo isso seja bombardeado na sua cabeça todo o tempo. O tempo inteiro. Numa velocidade, talvez mais rápida do que a da luz, e com certeza mais rápida do que nossos próprios pensamentos. Somos inflados de informações praticamente injetadas nas veias e estamos prestes a explodir de palavras que nem sabemos mais se são nossas.

Estamos num momento onde parece que toda a negação e repressão que reinava nas mentes humanas, deram lugar a uma mola impulsionadora onde toda a merda precisa ser jogada no ventilador imediatamente, e se você não jogar você é um alienado, hipócrita, que não ta nem aí pra ninguém ou pra situação do planeta. Sendo que se analisarmos uma mente individual, posso dizer com certeza que não é esse o caminho.

Num processo terapêutico por exemplo, as questões precisam ser iluminadas, trazidas pra consciência, aos poucos, com muita calma e cautela, pois elas precisam ser digeridas delicadamente. Não é à toa que a negação é considerada um mecanismo de defesa da mente. Se pegarmos todo o conteúdo negado e reprimido de uma pessoa e jogar  na cara dela, ela surta. E é isso que está acontecendo com o mundo. O mundo surtou.

Encontrar uma notícia boa no jornal ou uma mensagem bonita na internet é uma pérola rara. Aliás, notícia há muito tempo virou sinônimo de desgraça e as pessoas cada vez mais acham que falar sobre todos os problemas que existem, exaustivamente, não só em posts gigantescos no facebook como também nos momentos onde, entre amigos, deveriam ser momentos leves e prazerosos, vai resolver alguma coisa.

Sim, é importante não negar, não se alienar, do que está acontecendo no planeta. Porém pela lógica da minha forma de ver o mundo, que eu acredito que seja também a sua, já que você está lendo esse texto até aqui, o que está acontecendo no planeta está diretamente relacionado com o que está acontecendo dentro de nós. Como será então uma realidade de mentes bombardeadas todo o tempo apenas com ideias negativas?

Por exemplo, atualmente falam tanto sobre estupro nas redes sociais que eu me percebi outro dia com esse medo, um medo que eu nunca tive, apesar de ter pessoalmente vivido situações tensas, como sei que várias mulheres viveram, minha mente não ficava pensando nisso enquanto eu andava na rua, e hoje pensou. E não sou só eu, vejo amigas, pacientes,  que não sentiam esse medo, começando a sentir. Porque? Se o estupro sempre existiu, e arrisco a dizer até em maior quantidade e de forma menos ( ou nada) punitiva? O que isso diz sobre o que está sendo fortalecido em nossos inconscientes?

E agora, como lidar com uma realidade moldada por mentes esgotadas de tanto medo?

Será que se inundássemos nossa mente com o que ainda existe de positivo, de belo e luminoso dentro de cada ser humano; não esquecendo a podridão, não negando a sombra que todos nós temos, mas também não dando força pra ela ao passar o dia falando e pensando sobre ela; se parássemos de dar tanto ibope pra sombra humana e começássemos a pensar todos os dias, divulgar em nossas redes sociais, falar nas mesas dos bares, sobre tudo de bom que existe dentro de uma pessoa, qualquer pessoa. Sobre tudo de bom que aconteceu no seu dia, na sua vida, nesse planeta...Será que moldaríamos uma realidade melhor?

Será que conseguiríamos desintoxicar as nossas mentes, viciadas no medo, na ansiedade, no estresse, na adrenalina liberada na urgência do momento da fuga? Do que estamos fugindo? Porque estamos exaltando tanto os problemas e olhando tão pouco para as soluções? O que estamos ganhando com isso?

"A falsa imaginação te ensina que coisas tais como a luz e a sombra, o comprimento e a altura, o bem e o mal, são diferentes e têm que ser discriminadas; mas elas não são independentes uma da outra; elas são aspectos diferentes da mesma coisa, elas são conceitos de relação, e não a realidade." (Buda)


“As pessoas precisam criar rótulos para tudo o que sentem, percebem, e para toda experiência. Precisam de uma relação de gosto/não gosto com a vida, mantendo um conflito quase ininterrupto com situações e com pessoas. Será que isso é apenas um hábito que pode ser rompido? Não é preciso fazer nada. Basta deixar que cada momento seja como é. O ego não é capaz de sobreviver à entrega.” (Eckart Tolle)

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